Incêndio no Andanças contínua sem causas apuradas


PJ descarta mão criminosa

As causas da origem do incêndio continuam por apurar. Só daqui a um mês, altura em que está prevista a conclusão do processo de investigação realizado por vários peritos, entre os quais elementos da Polícia Judiciária, haverá certezas das causas do incêndio que deflagrou na tarde de quarta-feira, num dos parques de estacionamento do Festival Andanças, junto à barragem de Póvoa e Meadas, concelho de Castelo de Vide.
Apesar da manchete do Jornal de Notícias de hoje, sábado, dar como quase garantido a origem num cigarro mal apagado, nenhuma autoridade da PJ, da GNR ou da Câmara Municipal de Castelo de Vide confirmam tal situação.
Em declarações ao Fonte Nova, o tenente-coronel Carlos Belchior, da GNR de Portalegre, sublinha que a investigação a cargo da Policia Judiciária (PJ) ainda decorre e que a única certeza, comunicada por essa entidade, afasta a hipótese de “mão criminosa”.
Por sua vez, António Pita, presidente da Câmara Municipal de Castelo de Vide, assumiu que está a aguardar o relatório da investigação criminal e adianta que não tem nenhuma informação oficial sobre as causas do incêndio.


O processo de recolha dos veículos começou a meio da tarde de ontem, sexta-feira, mas apresenta-se como um processo moroso e burocraticamente complicado. Numa tentativa de facilitar o andamento do processo, a GNR instalou um posto móvel junto ao local do incidente com o objetivo de entregar as declarações de libertação das viaturas aos respetivos proprietários, para que estes, de forma célere, possam acionar os seus seguros de assistência em viagem.
A recolha das viaturas leva ainda a um constante aumento do número de automóveis danificados, uma vez que mesmo aqueles que inicialmente não mostravam sinais de danos, com a entrega aos seus proprietários, acabam por acusar problemas relacionados com o incêndio.
No recinto do Festival são ainda muitos os festivaleiros que aguardam uma resposta das suas seguradoras para que possam levantar os seus automóveis.
Durante a manhã de sexta-feira, o Fonte Nova falou com algumas dessas pessoas que se mostravam confusas e sem saber o que fazer. Entre elas, vários estrangeiros que viram os seus carros arder e que agora têm que acionar as seguras no seu país de origem. Maria é uma dessas pessoas. Residente no Porto, esta mulher acompanha o Andanças desde o seu início, há cerca de 20 anos. Primeiro porque sentia necessidade de acompanhar os filhos, atualmente porque gosta do ambiente multicultural que se vive no Festival. Foi uma das muitas pessoas que viu arder o seu carro. Tinha 16 anos mas era a única viatura que possuía e ferramenta fundamental de trabalho. Perdeu-a e agora resta-lhe esperar que sejam apuradas responsabilidades porque não possuía seguro contra todos os riscos, nem apólice contra incêndios. Contou-nos que contatou a agência da sua seguradora no Porto mas que, até ao momento, não tinha obtido nenhuma informação válida.
Durante o tempo que o Fonte Nova esteve no local, foram muitos os testemunhos que recolheu. Algumas histórias que emocionam quem as ouve. Foi-nos dito que um jovem de Castelo de Vide ia todos os dias para o Festival, onde estava a trabalhar, de bicicleta, mas nesse dia levou o carro, quis estaciona-lo perto do festival, e perdeu-o. Também não tem seguro contra todos os riscos… .
Houve ainda quem nos contasse que no meio do azar teve alguma sorte e que conseguiu retirar e desviar viaturas logo no início do incêndio. “Furámos o cordão humano que foi prontamente feito pelas autoridades e seguranças contratados pela organização e conseguimos tirar os nossos carros, que se encontravam na ponta contrária ao sítio onde deflagrava o incêndio e ainda tivemos tempo para afastar outras viaturas, cujos donos nem conhecemos, nem sequer estamos preocupados com isso”.



Seguro contra todos os riscos resolve problema


O Fonte Nova contatou um agente de seguros que, embora sem que conhecer o processo, nem as causas que terão originado a situação, garantiu que irá ter um decurso longo e complicado.
“Quem tem seguro contra todos os riscos, ou contra incêndios, tem a situação resolvida dentro de algumas semanas, através da sua própria seguradora. O pior está em quem não tem”, disse, explicando que a atuação das seguradoras irá variar de acordo com o apuramento das causas. “Se a fonte de ignição tiver sido dentro de um veículo, essa situação poderá ilibar a organização do Festival e as responsabilidades recairão no proprietário do veículo. Nesse caso, quase de certeza será acionado o seguro de responsabilidade civil, que todos os proprietários de veículos estão obrigados a ter, e que cobre danos até seis milhões de euros. Contudo apenas um milhão está destinado a danos materiais, sendo os restantes dirigidos a danos corporais. Montante, que neste caso, é manifestamente pouco”.
Se ao contrário, a origem do incêndio estiver no exterior da viatura, a responsabilidade, ainda segundo a nossa fonte, será ou do Festival ou, eventualmente da Câmara Municipal, ou até mesmo do proprietário do terreno. “Tudo depende da causa”, explica, acrescentando que “também poderá haver um acordo entre seguradoras de forma a minimizar os danos dos proprietários. Tudo está em aberto, mas seguramente será processo complicado e longo”, concluiu.
Na manhã de sexta-feira os sentimentos eram visivelmente contraditórios dentro do recinto do Festival. No centro de operações, muitos eram os festivaleiros que procuravam mais informações. A Organização espalhou pelo recinto o número de apólice e do processo para todos os interessados poderem utilizar, bem como o contato do gabinete de advogados contratados e que deverão assumir as conversações com as seguradoras e com os proprietários dos veículos.
Ainda nessa manhã, o Fonte Nova apurou que até ao momento em que deflagrou o incêndio os bombeiros não estiveram presentes no recinto do Festival, encontrando-se apenas uma equipa de sapadores municipais, uma ambulância e uma equipa de médicos e enfermeiros da Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano (ULSNA). A presença dos bombeiros depende sempre da contratação destes por parte da organização dos festivais. Segundo o Fonte Nova apurou a organização do Andanças não contratou os bombeiros de Castelo de Vide, nem qualquer outra corporação, para estarem presentes no recinto do Festival, embora essa presença seja entendida como obrigatória em muitas iniciativas similares.
No entanto, o Plano de Segurança do Festival foi colocado em prática e “correu muito bem. Ainda nem sabíamos ao certo o que estava a acontecer e já o recinto estava a ser evacuado. Foram evacuadas cerca de quatro mil pessoas, sem alvoroço ou sobressalto. Estava tudo muito bem organizado”, disse-nos ainda Maria, que garante que apesar da perda da viatura “estamos vivos e isso é o mais importante”.
Neste momento decorre a remoção dos veículos por parte dos proprietários, processo que pode demorar bastante tempo, prolongando-se mesmo até ao final da próxima semana.
Com o aproximar do final do festival, a Câmara Municipal de Castelo de Vide está a disponibilizar transporte aos festivaleiros que ficaram apeados e que pretendam regressar a casa. Neste sentido, António Pita salienta a “onda de solidariedade” manifestada pelos concelhos vizinhos, que se prontificaram a ajudar a Câmara de Castelo de Vide nesta tarefa.



Bombeiros aplaudidos por mais de quatro mil pessoas

As causas do incidente ainda estão longe de estar apuradas mas a coragem de quem combateu aquele inferno de chamas foi, na tarde de quarta-feira, reconhecida pelas mais de quatro mil pessoas presentes no Festival.
“Fomos aplaudidos. Quando o incêndio foi extinto e fomos jantar ao Festival, as pessoas fizeram corredores para nós passarmos, aplaudindo-nos e chamando-nos de heróis. Nunca nos tinha acontecido semelhante coisa. Ficámos emocionados e sem saber o que dizer. Afinal, fizemos apenas a nossa obrigação”, disseram-nos vários elementos do corpo de Bombeiros de Castelo de Vide, cuja corporação se mantém no local do incêndio até amanhã, data em que termina o Festival.
Neste momento de homenagens, foram muitos os festivaleiros que elogiaram a pronta atuação dos seguranças do parque, bem como da equipa da ULSNA,  que com um cordão humano impediram que centenas de pessoas corressem para o fogo para tentar recuperar as suas viaturas. “O desespero foi grande mas maior teria sido se houvesse perdas de vidas” disseram-nos algumas das muitas pessoas que falaram connosco naquela manhã de sexta-feira.
O Pédexumbo tem acordo com o Município de Castelo de Vide para a realização de mais seis festivais por isso, ao que tudo indica, em Agosto de 2017, o Andança volta à Barragem da Póvoa.